“O tópico de sua segunda palestra (…) foi a segunda cláusula do Credo: “E em Cristo Jesus, Seu único Filho, nosso Senhor; que é concebido pelo Espírito Santo, nascido da Virgem Maria”.
Com relação a essa cláusula, ela disse que ao insistir na significação esotérica como sendo a única verdadeira e de valor, estamos simplesmente revertendo ao costume antigo e original.
É a aceitação do Credo em seu sentido exotérico [ou externo] e histórico que é realmente moderna. Pois todos os Mistérios Sagrados eram originalmente vistos como espirituais, e apenas quando eles passaram das mãos de iniciados devidamente instruídos para aquelas do ignorante e do vulgar é que eles se tornaram materializados e degradados ao nível em que atualmente se encontram.
A verdade esotérica desse artigo do Credo pode ser entendida somente por meio de um conhecimento anterior, primeiro, da constituição do homem e, em seguida, do significado dos termos empregados na formulação da doutrina religiosa.
Essa doutrina denota um conhecimento perfeito da natureza humana, e os termos pelos quais ela é expressa – “Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria” e o restante – simbolizam os vários elementos espirituais que constituem o indivíduo, os estados pelos quais ele passa, e a meta que ele finalmente alcança no percurso de sua evolução espiritual.
Pois, como São Paulo diz: “essas coisas são uma alegoria” (Gálatas 4:24); e para compreendê-las é necessário conhecer os fatos aos quais elas se referem. Conhecendo esses fatos, não temos nenhuma dificuldade de reconhecer a origem de tal representação e de aplicá-la a nós mesmos.
Assim, “Adão” é o homem meramente externo e mundano, ainda que desenvolvendo no devido tempo a consciência de “Eva” ou a Alma – pois a alma é sempre a “Mulher” – tornando-se um ser dual constituído de matéria e espírito.
Como “Eva”, a Alma cai sob o domínio desse “Adão”, e tornando-se impura através da sujeição à matéria, dá nascimento a Caim, que, representando a natureza inferior, é descrito como cultivando os frutos do chão.
Mas, como “Maria”, a Alma readquire sua pureza e é descrita como sendo virgem, no que diz respeito à matéria e, se polarizando para Deus, torna-se mãe de Cristo ou o Homem Regenerado, o qual tão somente é o Filho Único de Deus e Salvador do homem no qual ele é gerado. Razão pela qual Cristo é tanto o processo como o resultado do processo. Assim sendo, ele não é “o Senhor”, mas “nosso Senhor”. O Senhor é Adonai, a Palavra, subsistindo eternamente no céu; e Cristo é sua contraparte no homem.” [Edward Maitland. The Life of Anna Kingsford (A Vida de Anna Kingsford), Vol. II, pp. 197-198; grifos nossos]