XV – OS PROBLEMAS MUNDIAIS E A FRATERNIDADE UNIVERSAL:
Primeiro Objetivo como Exemplo de Solução Consistente
(Capítulo XV da obra “Teosofia e Fraternidade Universal”)
161 – “As verdades e mistérios do ocultismo constituem, de fato, um corpo da mais alta importância espiritual, ao mesmo tempo profundo e prático para o mundo como um todo. (…) essas verdades lhes foram dadas por causa de suas implicações práticas sobre os interesses da humanidade. (…) Elas devem se provar tanto destrutivas quanto construtivas – destrutivas nos perniciosos erros do passado, nos velhos credos e superstições que sufocam toda a humanidade em seu venenoso abraço como a erva daninha mexicana; mas construtivas de novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade (…) Os Chefes querem uma “Fraternidade da Humanidade”, o início de uma real Fraternidade Universal; uma instituição que se faça conhecida por todo o mundo e cative a atenção das mentes mais elevadas.” (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 6, p. 23; grifos nossos)
Esperamos, após as análises dos capítulos anteriores, ter deixado claro o fracasso dos modelos dominantes, tendo apresentado as razões pelas quais eles não poderão assegurar jamais, especialmente em relação aos países pobres do mundo, uma ordem social justa e competente, que possa significar a superação do quadro de exclusão e miséria de tantos e tantos milhões que assistimos em nossos dias.
Modelo de Organização Coerente com a Filosofia Perene
Isto posto, chegamos agora ao momento em que devemos apontar, pelo menos, algumas diretrizes gerais a respeito de como seriam as “novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade”, uma vez que essa questão está centralmente relacionada com uma apropriada interpretação do primeiro objetivo da Soc. Teosófica.
Já vimos anteriormente que a premissa, isto é, a visão de humanidade por detrás desse modelo deve ser aquela que nos mostra “a humanidade como uma Fraternidade Universal”, a qual é a única perspectiva coerente com os princípios fundamentais da Filosofia Perene (ou Esotérica).
Quais são as características principais dessas novas instituições, ou de um novo modelo de organização, que atendam às necessidades anteriormente expostas de um processo justo e competente de seleção dos governantes, bem como de dotar-lhes com o suficiente poder de coerção?
As linhas gerais dessas novas instituições sociopolíticas – que garantam ao mesmo tempo 1) liberdade; 2) igualdade de condições nas disputas políticas; 3) adequação entre a responsabilidade ou o grau de dificuldade das funções e as características da consciência ou o nível de capacidades da população; e, 4) uma organização coesa de toda a população a fim de garantir aos governantes, assim eleitos, um suficiente poder de coerção – estão esboçadas por N. Sri Ram nas passagens que seguem:
162 – “Indubitavelmente cada homem é competente em sua própria esfera, para dizer o que ele quer para sua localidade ou vila, e para dizer quem irá servi-la melhor entre aqueles que ele conhece. Mas quando se trata de uma questão de decidir assuntos complicados, de abrangência nacional e internacional, é uma mera questão de bom senso que somente deveriam poder votar aqueles que têm algum conhecimento a respeito dessas matérias. E por essa razão é que a Dra. Annie Besant insistiu repetidamente, enquanto ela esteve ocupada com esses assuntos na política indiana, que a Índia não deveria, ao elaborar a sua Constituição, aderir ao fetiche do sufrágio de massa sem qualquer tipo de qualificações.” (On the Watch Tower, p. 81; grifos nossos)
163 – “Algum tempo atrás Pandit Nehru, em um de seus discursos, lançou um tanto vagamente a ideia de que algum dia, ao invés do atual sistema de eleições para Parlamento indiano, algum sistema, menos direto e mais adequado às condições da Índia, pudesse ser considerado.
Desde então, o Sr. Jai Prakash Narain (…) tem mais definidamente proposto, no lugar da atual forma de democracia na Índia, um sistema algo similar ao proposto pela Dra. Annie Besant nos dias de sua atuação em favor da libertação da Índia.
Ela não pensava que a regra “um homem, um voto” fosse boa para qualquer país, e muito especialmente ela não a recomendava para a Índia. Desse modo, ela delineou, na sua proposta de Constituição “The Commonwealth of India Bill” [1925], um sistema que teria uma base bem ampla ao nível das vilas (e correspondentes nas cidades), com voto adulto e uma grande autonomia nesse nível, e então se estreitaria gradualmente como uma pirâmide, através do nível dos Distritos, dos Estados (ou Províncias), até o Governo Central. As franquias para esses Conselhos nesses níveis superiores deveriam estar baseadas em crescentes qualificações de serviço, experiência, educação, etc.
Seu esquema, se tivesse sido apoiado pelos outros líderes políticos da época, particularmente pelo Partido do Congresso, teria sido aceito pela população da Índia como um todo. O princípio de uma qualificação razoável para o voto, e para tornar-se membro dos Conselhos, teria sido firmemente estabelecido. Mas, seus apelos foram em vão. O Sr. Gandhi posicionou-se pelo sufrágio de massa, e isso decidiu a questão.
O Sr. Jai Prakash Narain também vislumbra uma base forte e praticamente auto-suficiente para os Conselhos das Vilas, vila significando também uma cidade pequena, um distrito, ou bairro nos grandes municípios, mas eleições indiretas desses Conselhos para o Conselho do Distrito, desse último para as legislaturas provinciais ou estaduais, e dessas para o Parlamento de toda a Índia.
O Sr. Jai Prakash Narain é ainda uma voz solitária no terreno inóspito das atuais condições políticas na Índia. A descrição dessas condições como um terreno inóspito pode parecer um exagero, mas quando vemos os vários interesses de grupos, que são tão influentes e a variedade de conselhos para os mais diferentes assuntos que precisam ser tratados, não podemos deixar de sentir a verdade da descrição da Dra. Besant acerca da democracia, em sua presente forma, como o governo por meio da ignorância de múltiplas cabeças.” (On the Watch Tower, p. 86; grifos nossos)
164 – “Se a Índia puder desenvolver uma forma de democracia na qual haja alguma chance para a necessária sabedoria chegar até o topo, ela estará, desse modo, servindo aos mais elevados interesses do seu próprio povo, bem como estará dando um exemplo que poderá ajudar e inspirar outros povos.” (On the Watch Tower, p. 82; grifo nosso)
Uma outra forma de chegarmos a um modelo que atenda aos pressupostos para estar em harmonia com a Filosofia Perene é estudarmos as obras mais sérias a respeito do modelo hierárquico da Fraternidade Sagrada, a qual dirige, suave e poderosamente, os desígnios do nosso planeta e, possivelmente, do nosso sistema solar, e assim sucessivamente. Esse, estamos convictos, também é um método válido de aproximação a esse modelo, pois segundo o axioma hermético: “O que quer que esteja embaixo é similar ao que está acima. Através disso as maravilhas da obras do uno são alcançadas e aperfeiçoadas.” [Tábua de Esmeralda]
E como seria esse modelo, praticado pela Comunhão dos Santos, pela Igreja Celestial, para usarmos uma terminologia cristã?
Esse modelo, conforme podemos ler em obras magnas da Filosofia Perene (Esotérica, ou Hermética), trata-se de uma espécie de Corte, onde a autoridade e a liberdade coexistem harmonicamente.
Essa foi a ideia que procuramos aproximar de uma visão mais adequada e aceitável às mentes contemporâneas, influenciadas sobretudo pelo cientificismo e sua logicidade experimental.
Assim, em nossa obra O Que Há de Errado com a Política? Fundamentos para uma Verdadeira Democracia procuramos reforçar esses conceitos perenes com inferências de pesquisas empíricas, usando de uma linguagem simples e lógica. Até que ponto nos foi possível cumprir esse objetivo cabe ao leitor julgar.
Em todo o caso, esse, como disse, é um conceito perene. Ele está estampado desde as obras mais antigas que temos conhecimento, a exemplo do I Ching, já antes citado:
“Acima o céu, abaixo o lago: a imagem da CONDUTA. Assim o homem superior discrimina entre o alto e o baixo e fortalece desse modo a mente do povo.
O céu e o lago evidenciam uma diferença de altitude inerente à essência dos dois, e que, por isso, não desperta inveja.
Assim também entre os homens há, necessariamente, diferenças de nível. É impossível chegar a uma igualdade universal. Porém, o que importa é que as diferenças de nível na sociedade não sejam arbitrárias e injustas, pois nesse caso a inveja e a luta de classes inevitavelmente se seguiriam.
Se, ao contrário, às diferenças de nível externo corresponderem diferenças de capacidade interna, e o valor interno for o critério para a determinação da hierarquia externa, a tranquilidade reinar entre os homens e a sociedade encontrar ordem.” (I Ching (Livro das Mutações), Richard Wilheim, p. 56; grifos nossos)
Naturalmente, na Hierarquia Sagrada, na Igreja Celestial, “o valor interno é o critério para a determinação da hierarquia externa”. E, desse modo, a liberdade e a autoridade podem coexistir. Sinteticamente, podemos dizer que nesse nível a liberdade e a lei representam uma única realidade. Ou seja, nesse nível, a liberdade é a lei.
Ora, por certo, tamanha glória e perfeição não podem ser alcançadas nos assuntos de nossa atual realidade humana, pelo menos não até um ainda distante futuro. Porém, resta o fato de que essa realidade é o arquétipo de perfeição social que devemos sempre buscar.
O Novo Modelo em Comparação com os Atuais
Em vista das análises anteriores, seria quase desnecessário comentar como os modelos propostos acima são muito mais eficazes do que os atualmente dominantes, tanto em termos de competência do processo de escolha, quanto em termos de organizarem de forma muito mais coesa toda a população de qualquer sociedade nacional.
Basta dizermos que eles preservam a liberdade, pois há liberdade para diferentes opiniões e diferentes partidos se organizarem, liberdade de expressão, de participação, etc.
Eles também garantem uma igualdade de oportunidades na disputa política, quase tão grande quanto se possa humanamente imaginar, pois ao abolir-se as eleições de grandes massas, e somente havendo eleições que envolvem pequenas populações, todas as pessoas podem com facilidade se conhecer pessoalmente, sem grandes recursos econômicos para campanhas que são caríssimas, sem meios de comunicação de massa, sem cabos eleitorais contratados, etc.
E, também, a adequação entre funções e capacidades é naturalmente conseguida, especialmente no modelo proposto por J. Prakash Narain, pois as lideranças escolhidas em igualdade de condições, dentro de cada nível, vão qualificando cada vez mais as assembleias, ou conselhos.
Embora ambos os modelos sejam muito superiores aos hoje dominantes, cabe mencionar que o modelo de J.P. Narain apresenta algumas vantagens em relação ao da Dra. Annie Besant. Em primeiro lugar, é um modelo muito mais simples, pois é a própria população que vai livremente fazendo a seleção, não havendo a necessidade de franquias qualificatórias, que sempre podem, em sociedades tão injustas como as que vivemos, reproduzir algumas injustiças. Por exemplo, alguém pode ter um nível educacional baixo por falta de oportunidades, e não por falta de capacidades, o mesmo sendo válido para a experiência administrativa, etc.
Essas franquias qualificatórias tornam o sistema mais complexo, pois exigem quem as julgue, dando margem para serem burladas, etc. O modelo de J.P. Narain, obtém resultados semelhantes, senão melhores, seguindo os mesmos princípios e sem todas essas dificuldades.
De qualquer modo, como dissemos, ambos são incomparavelmente superiores aos que hoje estão sendo aplicados. Ambos, finalmente, organizam a população de forma muito coesa, e de forma que torna quase impossível uma repressão. Hoje os Congressos Nacionais são facilmente fechados nos golpes de Estado, pois a população encontra-se fragmentada, atomizada. Nesses modelos isso não ocorre, e mesmo que o Congresso Nacional de um país seja reprimido ou fechado, todo o resto da população continua organizada. Isso sem falar da força que significa a existência de lideranças nas quais, bem ao contrário dos dados mostrados anteriormente, a população pudesse realmente confiar.
Tanto a diferença na qualificação dos governantes, quanto na coesão organizacional, mudariam substancialmente o quadro caótico e perpetuador de injustiças de todo o tipo que hoje temos. E isso é de importância difícil de exagerar, sobretudo para as nações pobres, que hoje não têm esperança alguma, dentro dos atuais modelos, quer liberais, quer marxistas, de superarem o círculo vicioso da miséria e do subdesenvolvimento.
A Soc. Teosófica Deveria Ser um Exemplo das “Novas Instituições”
À luz da compreensão de todos os aspectos até aqui expostos – acerca da realidade das correntes de pensamento dominantes e, consequentemente, da realidade político-econômica delas derivada – podemos agora perceber claramente o imenso valor teórico e prático do princípio ou lei da Fraternidade Universal da Humanidade e, assim sendo, podemos interpretar e valorizar de forma apropriada o primeiro objetivo da Sociedade Teosófica.
Isto porque, à luz do que foi visto, não é difícil percebermos a imensa importância para a humanidade, de uma organização que se convertesse em um exemplo concreto (ou prático) de novas instituições político-administrativas estabelecidas sobre o princípio ou lei da Fraternidade Universal da Humanidade – novas instituições das quais a humanidade tanto carece.
Podemos assim entender, por exemplo, porque na carta com a visão do Sr. Mahachoha n,o trabalho da Soc. Teosófica está relacionado com a criação e a demonstração, na prática, de uma alternativa organizacional para “sistemas políticos e sociais” que “agora provaram-se um fracasso”. Relembremos, nesse contexto, algumas dessas passagens:
165 – “Uma maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente mescla do alto e do baixo, do Alfa e do Ômega da sociedade, foi determinada. (…) “Em vista do triunfo sempre maior e, ao mesmo tempo, do mau uso do livre pensamento e da liberdade (o reino universal de Satã, como Eliphas Levi a teria chamado), como poderá o instinto combativo natural do homem ser refreado de infligir crueldades e atrocidades que até agora nunca foram vistas, tirania, injustiça, etc., senão por meio da influência suavizadora de uma fraternidade, e da aplicação prática das doutrinas esotéricas do Buda?” (Letters from the Masters of the Wisdom, 1st Series, n. 1, p. 4; grifos nossos)
166 – “O mundo em geral, e a cristandade em especial, abandonados por dois mil anos ao regime de um Deus pessoal, bem como aos seus sistemas políticos e sociais baseados nessa ideia, agora provaram-se um fracasso. Se os Teósofos dizem: “Não temos nada a ver com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores (aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não podem nos preocupar e devem se arranjar da melhor forma que puderem”, o que acontece com as nossas belas profissões de benevolência, filantropia, reforma, etc.? Serão essas profissões uma farsa? E se forem uma farsa, poderá o nosso caminho ser o verdadeiro? Deveríamos nos dedicar a ensinar a uns poucos europeus (…) e deixarmos que os muitos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, de humildes e oprimidos, tomem conta de si mesmos e do seu futuro da melhor forma que souberem? Nunca. Antes pereça a S.T. com os seus dois desafortunados fundadores, do que permitirmos que ela se torne nada mais do que uma academia de magia, um lugar dedicado ao ocultismo.” (Letters from the Masters of the Wisdom, 1st Series, n. 1, p. 7; grifos nossos)
167 – “E é de nós, humildes discípulos desses Lamas perfeitos, de quem se espera que permitamos que a S.T. abandone a sua nobre denominação, aquela de Fraternidade da Humanidade, para se tornar uma simples escola de psicologia. Não, não, meus bons irmãos, vocês têm incorrido nesse equívoco por um tempo demasiado longo.” (Letters from the Masters of the Wisdom, 1st Series, n. 1, p. 9; grifos nossos)
Há uma passagem da Sra. Helena Blavatsky na qual ela afirma esse mesmo aspecto relacionado com o primeiro objetivo da Soc. Teosófica, isto é, que a ST como uma organização deveria ser uma demonstração prática de aplicação da lei da Fraternidade Universal:
168 – “Todos os membros da Sociedade Teosófica são livres para professar qualquer religião ou filosofia que desejarem, ou nenhuma se assim preferirem, desde que estejam em sintonia com, e prontos a realizar, um ou mais dos três objetivos da Associação. A Sociedade é um organismo filantrópico e científico para a difusão da ideia da fraternidade em bases práticas, e não teóricas.” (A Chave para a Teosofia, p. 30; grifo nosso)
O Que os Mahatmas Esperavam da Soc. Teosófica
Os Mahatmas, como vimos, esperavam que a ST fosse “antes de mais nada uma fraternidade universal” (HPB, ML, n. 138, p. 468); eles falaram da “Sociedade como uma fraternidade universal” (K.H., ML, n. 28, p. 215); que queriam “o início de uma real fraternidade universal, uma instituição que se faça conhecida por todo o mundo e cative a atenção das mentes mais elevadas.” (K.H., ML, n. 6, p. 24; grifo nosso); que o fato da ST constituir-se como um ramo da fraternidade universal estava relacionado “ao plano geral e à administração externa da projetada Sociedade” (K.H., ML, n. 28, p. 213); que esperavam que os grupos da ST se tornassem “precursores de uma Fraternidade Universal” (K.H., ML, n. 28, p. 209); e, finalmente, que as verdades da Filosofia Perene por Eles exposta deveriam se tornar “construtivas de novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade” (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 6, p. 23; grifo nosso).
“Má Compreensão Generalizada dos Objetivos e Metas”
Ainda assim, apesar dessas e de outras passagens análogas, como dissemos antes, a maioria dos membros da Soc. Teosófica, mesmo entre os seus líderes, concebe a Fraternidade Universal como sinônimo de uma virtude, de uma aspiração, ou ainda, de um estado de regeneração da psique individual.
Ao incorrerem nessa má interpretação e deixarem de ver a Fraternidade Universal como um fato e como uma lei da natureza, ao invés de uma aspiração, deixam ao mesmo tempo de entender o real propósito e a imensa importância do seu primeiro e principal objetivo. Uma prova insofismável disso é que recentemente alguns membros influentes chegaram a defender a ideia que a Fraternidade Universal era um objetivo já superado, e que melhor faríamos em mudá-lo por outro mais pertinente.
Em vista dessa má compreensão generalizada da lei da Fraternidade humana e do primeiro objetivo da Soc. Teosófica, não é de surpreender o fato de que a ST, quanto ao modelo organizacional que concretamente apresenta em quase todas as suas seções nacionais, e em sua organização internacional, isto é, quanto ao seu “plano geral e à administração externa”, ao invés de ser um exemplo concreto “de novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade”, apenas se limite a copiar os exemplos de organizações liberais que hoje dominam o mundo e que, como esperamos ter demonstrado claramente, se constituem em negações da lei da Fraternidade Universal da Humanidade.
O Exemplo Nocivo da Atual Organização da Soc. Teosófica
A regra “um homem, um voto” e o sufrágio de massa, que arruínam a vida de tantas nações foi copiada dentro da própria Soc. Teosófica! Ao invés de ser um exemplo prático de organização baseada na lei da Fraternidade Universal, de exemplificar um processo de escolha que garanta, além da liberdade, igualdade de oportunidades e adequação entre o nível da função ou responsabilidade e o nível das capacidades dos membros, a Soc. Teosófica oferece ao mundo, na prática, um exemplo de nivelamento, ou igualitarismo, quanto à apreciação das capacidades humanas. Ao invés de um processo de escolha semelhante ao descrito por N. Sri Ram acima, quase sempre vemos na ST exemplos de processos de escolha dos dirigentes baseados no sufrágio de massa!
Poderia haver prova maior da má compreensão generalizada, mesmo entre os líderes, da lei da Fraternidade Universal e da importância do primeiro objetivo da Soc. Teosófica? Um outro exemplo flagrante de injustiça e negação da lei da Fraternidade Universal, a qual, como vimos, deve implicar necessariamente na igualdade de oportunidades nos processos de escolha dos dirigentes, é o que observamos na absurda fórmula de representação posta em prática para a composição do Conselho Internacional da Soc. Teosófica, que é o seu órgão dirigente máximo, onde uma pequena Seção, de digamos 70 membros, tem a mesma representação do que uma Seção de 700 membros, e a mesma representação do que uma Seção de 7.000 membros! Se isso não é um exemplo de injustiça, de influência exagerada do famigerado espírito nacionalista, e de total ausência de igualdade de oportunidades nos processos de escolha dos dirigentes, então o que será?
Outro exemplo problemático é o da existência de vários membros nomeados no Conselho Mundial da Soc. Teosófica. Se o sistema seleciona bem os dirigentes, por que essas pessoas já não fazem parte do Conselho Mundial e precisam ser nomeadas? A resposta óbvia é que o sistema atual não seleciona os mais capacitados e, muito menos ainda, oferece igualdade de oportunidades na disputa por esses cargos. O atual sistema é uma cópia (talvez piorada) do sistema liberal que é dominante no mundo, pois no mundo dificilmente, ou muito raramente, 70 pessoas terão o mesmo direito de representação de 7.000.
Devemos seriamente ponderar se esse sistema atual não tem muito a ver com a mediocridade e a falta de dinamismo que podemos observar na Soc. Teosófica em quase todo o mundo. Devemos igualmente refletir se não é chegada a hora da Soc. Teosófica, quanto ao seu “plano geral e à administração externa”, ao invés de ser uma cópia das instituições que arruínam o mundo, passar a ser um exemplo concreto “de novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade”, para usar as palavras que lemos na carta do Adepto.
O Novo Modelo Organizacional da Soc. Teosófica no Brasil
Nesse sentido, merecem destaque especial as mudanças organizacionais que a Seção Nacional da Soc. Teosófica no Brasil aprovou no dia 8 de maio de 1994. Nessa data foi aprovada a implantação nessa Seção Nacional de um sistema exatamente análogo ao proposto por N. Sri Ram nas citações antes apresentadas. Talvez somente à luz das citações, análises e comentários apresentados nessa obra é que seja possível uma justa avaliação da importância dessas mudanças.
Essas mudanças significam, nada mais, nada menos, do que a implantação de um “plano geral” e de uma “administração externa” que, finalmente, parecem exemplificar na prática um modelo organizacional que, por tudo o que vimos, está relacionado com as “novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade”. Tudo indica que esse seja o caso porque o modelo aprovado garante ao mesmo tempo liberdade, igualdade de oportunidades, adequação entre capacidades e responsabilidades e, por último mas não menos importante, muito maior coesão administrativa.
O primeiro e maior dos objetivos da Soc. Teosófica, já tão tardiamente, talvez esteja encontrando um exemplo apropriado de realização prática, pelo menos quanto ao “plano geral e à administração externa” da ST, conforme queriam os Adeptos.
Ainda que se trate de um experimento limitado e frágil – sobretudo por contar apenas com uma compreensão superficial acerca da sua relevância, por parte da maioria dos membros da Soc. Teosófica no Brasil – ainda assim, sua importância dificilmente poderia ser exagerada.
Essa importância não deveria, de modo algum, obscurecer o caráter experimental dessas mudanças organizacionais. Somente a observação dos resultados obtidos, após um bom período de teste do novo modelo, é que nos permitirá conclusões mais firmes. No entanto, apenas como um experimento em uma área tão vital para a Soc. Teosófica (e para o mundo), sua importância dificilmente poderia ser exagerada.
A Sra. Helena Blavatsky nos alertou, no final de sua obra A Chave para a Teosofia, que “todas as tentativas como a da Sociedade Teosófica até agora terminaram em fracasso” (p. 259), e que:
169 – “(…) todos os nossos membros nasceram e foram criados em algum credo ou religião; que todos pertencem, mais ou menos, tanto física quanto mentalmente, a uma dada geração, e consequentemente seus julgamentos mais do que provavelmente poderão ser deformados e inconscientemente determinados por algumas ou por todas essas influências. Se, portanto, eles não puderem livrar-se desses preconceitos inerentes, ou pelo menos serem ensinados a reconhecê-los instantaneamente e, assim, evitar que sejam desencaminhados por eles, o único resultado possível é a Sociedade ficar à deriva e ser arrastada para algum banco de areia mental e permanecer ali como uma carcaça encalhada para morrer e apodrecer.” (p. 260; grifos nossos)
A carta com a visão do Sr. Mahachohan, antes citada várias vezes, manifesta uma clara e forte preocupação com “o abuso da chamada liberdade” (Liberalismo). Afirmou-se ali, de forma inequívoca, que os efeitos perversos desses abusos (“o reino universal de Satã”) não poderiam ser evitados “senão por meio da influência suavizadora de uma fraternidade, e da aplicação prática das doutrinas esotéricas do Buda”. (Letters from the Masters of the Wisdom, 1st Series, n. 1, pp. 4-5)
O Exemplo que a Soc. Teosófica Deveria Dar, mas Não Dá
Como dissemos anteriormente, esperava-se que a Soc. Teosófica fosse um exemplo de organização que aplicasse na prática os princípios das doutrinas esotéricas dos Mahatmas, o que significa nada menos do que a constituição de um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade. Isso porque somente dessa maneira a ST estaria exemplificando de forma viva, na prática, as soluções para os grandes problemas do mundo. Tal projeto era visto como absolutamente imprescindível, como condição sine qua non pelos Mahatmas, conforme lemos na citação que repetimos abaixo, até mesmo porque predicar sem viver aquilo que se professa não é mais do que uma hipocrisia:
170 – “(…) pois a minha menção a esse assunto relacionava-se apenas ao plano geral e à administração externa da projetada Sociedade, e de forma alguma aos seus estudos esotéricos; relacionava-se ao Ramo da Fraternidade Universal e não à “Escola de Magia” – a formação do primeiro sendo condição sine qua nonpara a última. (…) Eu pedi por um esquema geral, e você imaginou que eu clamava por cooperação nas instruções a serem dadas nas ciências espirituais! Um qui pro quo muito infeliz (…) E você, [N.A.: o Mahatma se dirige ao Sr. Allan O. Hume] de outro modo um homem bom e sábio, sendo inconscientemente um exemplo do seu espírito [N.A: do espírito de nossa época] é incapaz de compreender nossas ideias a respeito da Sociedade como uma Fraternidade Universal, e assim – dá as costas para ela.” (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 28, p. 213-215; grifos nossos)
Tão somente a constituição de um tal núcleo da lei da Fraternidade Universal da Humanidade é que, de um lado, conquistaria para a Soc. Teosófica o direito moral de pregar as soluções para os grandes problemas e, de outro, geraria a força necessária para a realização dessa gigantesca tarefa, em face dos tremendos obstáculos e antagonismos de toda ordem a serem enfrentados.
Essas devem ser algumas das razões pelas quais a constituição de um núcleo da Fraternidade Universal ocupa uma posição tão importante dentro do plano dos Adeptos para a Soc. Teosófica. Tamanha a importância atribuída pelos Adeptos a essa tarefa que o Sr. Mahachohan afirmou categoricamente: “antes pereça a ST e seus dois desafortunados fundadores”, do que deixar de estar voltada para a solução dos problemas dos “muitos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, de humildes e oprimidos”; e que Eles jamais permitiriam que “a S.T. abandone a sua nobre denominação, aquela de Fraternidade da Humanidade, para se tornar uma simples escola de psicologia.”
O Sr. Allan O. Hume e o Plano Original dos Mahatmas
As informações que encontramos nas cartas dos Adeptos a respeito de Seus projetos em relação ao Sr. Allan O. Hume parecem ser de extraordinário valor instrutivo acerca desse ponto tão importante relacionado com o primeiro objetivo da Soc. Teosófica. Esses acontecimentos geralmente são pouco conhecidos, pelo menos quanto a alguns detalhes. Assim sendo, a fim de que se possa avaliar bem e retirar as lições apropriadas desses fatos ocorridos em relação ao Sr. Hume, será útil termos uma ideia geral destes acontecimentos.
O Sr. Allan O. Hume era um grande amigo do Sr. Alfred P. Sinnett, e era um alto funcionário da administração inglesa da Índia. O Sr. Sinnett possuía treinamento e larga experiência como jornalista e editor, enquanto que o Sr. Hume possuía treinamento e muita experiência como administrador. Eles se aproximaram da Sra. Blavatsky e da Soc. Teosófica e, por meio dessas, dos Adeptos (Mahatmas). Estabeleceu-se então a conhecida correspondência que deu origem à obra The Mahatma Letters to A.P. Sinnett (ML), de onde extraímos os fatos aqui mencionados.
Os fatos mais relevantes, no contexto de nossa obra, são os seguintes: os Adeptos solicitaram auxílio ao Sr. Hume em relação à formulação do “plano geral e administração externa” da Soc. Teosófica, os quais segundo o ponto de vista dos Adeptos, naturalmente, estavam deficientes. O Sr. Hume não compreendeu bem esse pedido de auxílio dando origem ao conhecido qui pro quo, conforme citamos novamente:
“Eu pedi por um esquema geral, e você imaginou que eu clamava por cooperação nas instruções a serem dadas nas ciências espirituais! Um qui pro quo muito infeliz”. (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 28, p. 213)
O fato, contudo, que não é muito conhecido é a importância que os Adeptos atribuíam à possível contribuição que o Sr. Hume poderia dar para à Soc. Teosófica, mas que infelizmente acabou não se concretizando. Tanto na literatura da ST, quanto nas conversas dos membros da ST, praticamente não se menciona a natureza desse auxílio esperado, e menos ainda quais as razões dele ser considerado tão importante pelos Adeptos que inspiraram a fundação da Soc. Teosófica.
Essa quase total ausência de menção a essas passagens é, em si, digna de nota e de reflexão, tendo em vista a importância vital atribuída pelos Adeptos à questão central desses acontecimentos.
Na verdade, o silêncio a respeito desses acontecimentos deve ser explicado justamente pela “má compreensão generalizada dos objetivos” da Soc. Teosófica. Ao tomar-se a Fraternidade Universal como uma aspiração, como sinônimo de regeneração individual, ou de amor universal, essas passagens que revelam uma perspectiva completamente diferente da Fraternidade Universal como uma lei, e daí a importância do primeiro objetivo da ST, naturalmente, são deixadas de lado.
Não obstante, das citações já vistas e das trazidas abaixo, podemos perceber que:
1) esse auxílio estava relacionado com a formação de um núcleo da Fraternidade Universal e, portanto, com o primeiro objetivo da Soc. Teosófica, o que fica claro quando o Adepto escreveu que Sua “menção a esse assunto relacionava-se apenas ao plano geral e à administração externa da projetada Sociedade”, e de forma alguma aos seus estudos esotéricos; relacionava-se ao Ramo da Fraternidade Universal e não à “Escola de Magia” – a formação do primeiro “sendo condição sine qua non para a última”;
2) que o auxílio que o Sr. Hume poderia dar era de vital importância para o sucesso de todo o trabalho da Soc. Teosófica, pois lemos que:
171 – “Nem o Chohan, [N.A.: o Senhor Mahachohan] nem K.H., nem eu mesmo jamais subestimamos a utilidade do Sr. Hume. Ele prestou serviço de inestimável valor à Soc. Teosófica e a H.P.B. e tão somente ele é capaz de tornar a Soc. Teosófica um agente permanente para o bem.” (M., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 29, p. 225; grifo nosso)
Essa passagem é realmente impressionante, tão impressionante quanto o silêncio a seu respeito, pois ela atribui um peso imenso ao auxílio que o Sr. Hume poderia ter dado.
Desse auxílio dependia, nada mais nada menos, a eficiência da Soc. Teosófica como um agente permanente para o bem. Se isso não é matéria da maior importância então o que será? Além disso, podemos ver que:
3) esse auxílio do Sr. Allan Hume estava ligado às “soluções consistentes” que a Soc. Teosófica deveria oferecer aos problemas do mundo e que, portanto, essas soluções poderiam beneficiar muito a vida de muitos milhões de pessoas, conforme lemos:
172 – “Você sabe que nós dois [N.A: os Mahatmas M. e K.H.] amamos nosso país e nossa raça; que vemos a Soc. Teosófica em mãos apropriadas como uma grande potencialidade para o bem de ambos (…) e ao Sr. Hume foi mostrado a maneira como ele pode beneficiar imensamente milhões de seus irmãos. Escolham de acordo com suas melhores luzes.” (M., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 29. p. 226; grifos nossos)
Mais ainda:
4) que o auxílio do Sr. Hume estava ligado à necessidade de reformas sociais, filosóficas e religiosas:
173 – “O Sr. Hume – se ele persistir em suas resoluções – tem um grande e nobre trabalho à sua frente – o trabalho de um verdadeiro Fundador de uma nova era social, de uma Reforma filosófica e religiosa.” (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 95, p. 430; grifos nossos)
E, finalmente:
5) que o Sr. Hume não conseguiu compreender o pedido de auxílio que lhe foi formulado. Na última carta dos Adeptos dirigida a Allan Hume podemos ler o que segue:
174 – “E você, de outro modo um homem bom e sábio, sendo inconscientemente um exemplo do seu espírito[N.A: do espírito da nossa época] é incapaz de compreender nossas ideias a respeito da Sociedade como uma Fraternidade Universal, e assim – dá as costas para ela.” (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 28, p. 215; grifos nossos)
Passado mais algum tempo, em carta subsequente, o Adepto refere-se não apenas à não compreensão do Sr. Allan Hume, mas à sua atitude e postura que tornou-se contrária e ativamente inimiga dos Seus projetos:
175 – “(…) cuja nova orientação você deve às incessantes intrigas secretas de nosso ex-amigo Sr. Hume – (agora completamente nas mãos dos Irmãos da Sombra)”. (K.H., The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, n. 58, p. 337)
É importante para o contexto dessa obra mencionarmos o fato que apesar de ter se afastado da Soc. Teosófica, o Sr. Allan O. Hume desempenhou, logo depois, o papel de um líder nos assuntos da Índia daqueles dias. Até hoje ele é considerado um dos grandes precursores da independência da Índia, pois foi o fundador do movimento que transformou-se no Partido do Congresso, o qual até hoje domina a política indiana, o mesmo partido do qual depois chegou a ser presidido pela Dra. Besant e pelo chamado [sic!?] “Mahatma” Gandhi.
Desse modo, ao invés de Fundador de uma nova era social, o Sr. Hume limitou-se a reprisar as instituições dominantes em sua época – aquelas do Liberalismo inglês. Mais tarde a Dra. Besant tentou reverter esse panorama, liderou uma proposta de nova Constituição para a Índia, mas foi derrotada pelo Sr. Gandhi dentro do Partido do Congresso e, mais uma vez, prevaleceram as instituições liberais dominantes do sufrágio de massa, etc.
Foi assim que, ao invés de pioneira de uma nova era e filosofia social, a Índia até hoje é palco e exemplo de uma das situações sociais mais tragicamente excludentes do mundo. E o Sr. Hume, ao invés de Fundador de uma nova era e filosofia sociais, limitou-se a ser um agente que reproduziu as causas da miséria, em franca oposição ao trabalho e às esperanças originais dos Adeptos (verdadeiros Mahatmas), em relação à Índia e ao próprio Sr. Hume.
Todos esses trágicos acontecimentos, envolvendo o Sr. Allan O. Hume e a situação da ST e da Índia, são fatos que parecem muito instrutivos e que parecem conter lições ainda tristemente atuais e da maior importância para a Soc. Teosófica. A menos que todas as premissas e a argumentação lógica desse texto estiverem totalmente equivocadas, esses tristes fatos são muito reveladores acerca dos problemas centrais do que chamamos de “elementos decisivos do fracasso” da situação da ST, a qual, ao invés de exemplificar na prática as “novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade”, tende, em seu conjunto, entre outros problemas já apontados, a reprisar os problemas derivados das fracassadas instituições dominantes em nossa época.
A Importância de um Novo “Plano Geral e Administração Externa”
Tudo isso, consequentemente, enfatiza e talvez ilustre melhor a imensa importância potencial das mudanças sendo experimentadas no Brasil.
Lamentavelmente, muito poucos são aqueles, mesmo entre os dirigentes da Soc. Teosófica no Brasil, que se apercebem minimamente da oportunidade que têm em suas mãos. Se pelo menos a maioria dos dirigentes da Soc. Teosófica no Brasil não compreender satisfatoriamente os reais contornos e as imensas implicações potenciais dessa oportunidade tão rara, então essas mudanças formais na estrutura organizacional terão pouco significado, uma vez que não poderão impedir atitudes e ações equivocadas, contraditórias e ineficientes por parte das lideranças, cujos resultados tenderão a minar o êxito do experimento.
Desnecessário seria dizer que esse livro é uma tentativa de contribuir com a mudança desse panorama, servindo como um alerta e um esclarecimento para os líderes da Soc. Teosófica, especialmente no Brasil. Se esse objetivo for alcançado, o que não é muito fácil, então o funcionamento da nova estrutura será submetido a um justo teste, e pelos seus frutos poderemos avaliar se a árvore é beneficente e precursora de uma nova era e de uma nova filosofia social, ou se ela é estéril e apenas reproduz a fome e a miséria da situação atual.
Em que medida os líderes atuais e os membros da Soc. Teosófica em geral, de um lado, pelo menos intelectualmente compreendem essas questões e, de outro, conseguem viver e expressar como uma organização, na prática, as elevadas concepções originais dos fundadores e, assim sendo, conseguem concretamente realizar o primeiro e mais fundamental dos objetivos declarados da Soc. Teosófica constitui-se, sem sombra de dúvida, numa questão da maior seriedade, a qual cada membro responsável da ST deveria colocar, frequentemente, ante o tribunal de suas melhores luzes.
No entanto, por maiores que sejam as dificuldades nesse sentido, isso não afeta de modo algum o fato de que a Soc. Teosófica, pelo menos enquanto proposta original, bem como enquanto às diretrizes genéricas dos seus objetivos seja, realmente, uma sociedade “teosófica”, isto é, seja genuinamente altruísta e beneficente e, portanto, seja o reflexo de uma genuína Iluminação Espiritual, ou Teosofia.
Finalmente, esperamos ter demonstrado que de uma compreensão e de uma explicação apropriadas do princípio ou lei da Fraternidade Universal da Humanidade dependem, em decisiva medida, a glória ou o fracasso dessa organização verdadeiramente extraordinária que é a Soc. Teosófica, cujos objetivos, muito embora estejam formulados com grande simplicidade, são, no entanto, difíceis de serem compreendidos – e mais difíceis ainda de serem realizados satisfatoriamente na prática.
Esperamos ter demonstrado, em resumo, que dessa compreensão apropriada depende a glória de oferecer ao mundo um exemplo concreto de “solução consistente para a questão do problema do grande princípio dual da liberdade e do despotismo”, sendo que a falta dessa solução, como vimos, é um dos principais problemas mundiais – ou então o fracasso de, ao invés de um plano geral coerente com a lei da Fraternidade Universal da Humanidade, oferecer ao mundo o nocivo exemplo de copiar um modelo de organização fracassado, e que tantos males tem causado no mundo.