Esse nivelamento – ou seja, essa premissa que afirma a existência de uma igualdade, ou pelo menos uma grande semelhança de nível evolutivo psicológico e moral, entre todos os seres humanos – é um traço central não apenas do Liberalismo, mas também, embora em outro nível e por caminhos diferentes, do Marxismo, conforme veremos mais adiante. Portanto, a noção da existência de um nivelamento ou igualdade psicológica é uma premissa absolutamente central, em torno da qual se desenvolveram, embora sob pressupostos diferentes, as duas correntes de pensamento que dominam o cenário atual do pensamento mundial.
A esse respeito, podemos ler no Dicionário de Política (de N. Bobbio, et allie), que já Hobbes entendia que:
“(…) todos os homens possuem fundamentalmente a mesma potência física e intelectual e que as diferenças são insignificantes.” (p. 598)
Ali também lemos que Hobbes afirmou no Leviatã (cap. XIII) que:
“A natureza fez os homens tão iguais na capacidade física e intelectual, que qualquer pessoa pode matar, mas não superar outra em astúcia.” (p. 597)
Conforme mostramos antes, o Liberalismo nos seus primórdios parte de uma concepção de homem similar àquela do estado natural defendido por Hobbes, o qual se caracterizava pelo igualitarismo de capacidades. Dentro desse panorama, e uma vez que parte de uma visão similar de ser humano, torna-se perfeitamente lógico que o Liberalismo resulte na defesa de instituições políticas igualitárias, pelo menos em termos jurídicos formais, porque na prática socioeconômica, é claro, o que observamos são diferenças enormes. Desse modo, podemos ler novamente no Dicionário de Política recém citado que:
“O liberalismo clássico afirmava que (…) abolidos os privilégios e estabelecida a Igualdade de direitos, não haverá tropeços no caminho de ninguém para a busca da felicidade.” (p. 604)
Uma vez assumida essa visão igualitarista (e nivelada, no caso do Liberalismo, num patamar egoístico) da psique humana, derivam-se dela, de forma perfeitamente lógica, as principais instituições do modelo liberal de organização político social, isto é, as principais instituições das atuais formas das chamadas democracias liberais. (Arnaldo Sisson Filho. Teosofia e Fraternidade Universal – Capítulo XI)