Para Justificar o Absolutismo, Hobbes Parte do “Homo Homini Lupus”

Para chegar a justificar o governo absoluto, Hobbes parte da descrição do estado de natureza que, segundo se acreditava comumente por esta época, teria precedido o estado social. Encontra-se, sem nenhuma dúvida, no curso dessa descrição, traços do primeiro livro de história de Tucídides, no qual esse autor conta que numa época longínqua os gregos viviam de rapinagens e de violências, e que a única lei era a do mais forte.

Tais eram, segundo Hobbes, os costumes de todos os homens primitivos. Dessa forma, no seio desses povos, nem os homens nem os bens gozavam jamais de segurança. Cada um devia se defender contra a violência dos outros, e cada homem era lobo para os outros homens, ‘homo homini lupus’. Por toda parte irrompia a luta de cada um contra todos – ‘bellum omnium contra omnes’.

A fim de sair desse estado caótico, todos os indivíduos teriam cedido todos os seus direitos ao Estado. Cada qual teria colocado suas forças ao serviço estatal, a fim de que esse tivesse a possibilidade de por termo às violências de todos e remediar esse estado de coisas insuportável. (G. Mosca e G. Bouthoul, História das Doutrinas Políticas, p. 189)

“Leviatã” é o nome de um animal feroz e muito poderoso, ao que tudo indica o crocodilo do Nilo, que é descrito na Bíblia, nos cap. 40 e 41 de Jó, e sobre o qual ele escreve: “Não há poder sobre a terra que se lhe compare, pois foi feito para que não temesse a nenhum.” (Jó, 41:24). É claro que Hobbes, ao valer-se da figura do Leviatã, sustenta que um papel benigno é desempenhado por um poder assim (o do monarca absoluto) o qual, ao atemorizar a todos, pode “por termo às violências de todos e remediar esse estado de coisas insuportável”.

Nos primórdios da corrente do Liberalismo, a exemplo de um dos seus grandes iniciadores que foi o inglês John Locke, parte-se da mesma concepção de homem como um ser basicamente egoísta, mas chega-se a conclusões exatamente opostas e, diga-se de passagem, muito mais lógicas que as de Hobbes. Ou seja, se todo o homem é lobo dos demais homens, então, de pouco nos adiantará termos um Leviatã pois, logicamente, esse também será um lobo, preocupando-se apenas com os seus interesses e dos que lhe são caros, às expensas do bem-estar dos muitos que seriam por ele explorados em benefício desses poucos. De fato, após tantos anos de predomínio das ideias liberais, quase ninguém mais associa o Leviatã com um poder que exerce um papel socialmente benéfico, mas sim com um monstro aterrador de grande malignidade. (Arnaldo Sisson Filho. Teosofia e Fraternidade Universal, Capítulo XI Premissas e Instituições Centrais do Liberalismo; e também O Que Há de Errado Com a Política? Fundamentos para uma Verdadeira Democracia; Capítulo 4: Liberalismo: Premissas e Sistema Político)