O Guardião de Meu Irmão

O Guardião de Meu Irmão

C. Jinarajadasa

“Em uma terra antiga como a Índia, onde existe hoje tantas religiões, não há necessidade alguma de adicionar qualquer ensinamento que possa ser chamado de novo. (…)

Contudo, se examinarmos todos esses ensinamentos, notaremos que eles se concentram principalmente na vida do indivíduo e não particularmente em suas relações com aqueles entre os quais ele vive. (…) A respeito de tudo aquilo que é mau nas condições sociais da comunidade, nos é dito em síntese: “Deixe tudo isto para Deus.” Isso tem sido tanto o caso na Índia, por milhares de anos, com os seus vários milhões de sannyasis, que nenhuma atenção foi prestada às condições de pobreza, ignorância, degradação e exploração que estão em todos os lados ao seu redor, por esses que se supõe estejam aspirando à mais elevada espiritualidade. É bem verdade que toda religião prega a caridade, isto é, as doações aos miseráveis. Mas quase nunca se levanta qualquer questão acerca do porquê numa nação chamada de uma comunidade civilizada deva existir um miserável sequer.

No século passado (1875) a ST foi iniciada com o ensinamento fundamental da Fraternidade Universal. Em outras palavras, até que algo do ideal da Fraternidade fosse realmente aplicado na vida social não poderia existir nenhuma comunidade realmente espiritual, ou mesmo civilizada. Mas o que queremos dizer por Fraternidade? (…) o que é, afinal de contas, que significa a Fraternidade quando trazida para o nível prático da vida diária? (…)

Nos últimos anos a Índia é livre para administrar seus próprios assuntos. Mas quais são as condições nas quais vivemos? Não preciso descrevê-las, pois todos vocês as conhecem bem. (…) Seria desnecessário aludir à corrupção na administração por todo o país (…) Vocês dirão: o que é que vocês jovens podem fazer hoje?

Certamente não muito nesse momento. Mas são essas condições que vocês devem estudar e tentar entender suas causas (…) Sua aspiração por realização espiritual hoje deveria estar voltada para a compreensão de qual é a verdadeira base da economia e de quais são os princípios eternos da justiça.

Quando essas verdades estiverem inseridas na estrutura do povo é que poderemos ter uma verdadeira vida religiosa, mesmo que nem um único templo, igreja ou mesquita exista nessa terra. (…)

O entendimento desses problemas que afetam a vida das massas, é que deveria ser o principal estudo de cada grupo de jovens da ST, e não propriamente entender o que os mais velhos chamam de “Plano de Deus”. O poder de dirigir as questões relacionadas com o povo lentamente passará dos mais velhos para vocês. Se vocês cometerem os mesmos erros que os mais velhos cometeram, terão desperdiçado sua juventude. (…) “Por acaso sou eu o guardião de meu irmão?”, perguntou Caim. A primeira aplicação da Fraternidade é: Nunca poderei ser meu próprio guardião, a menos que eu seja antes o guardião de meu irmão. (C. Jinarajadasa, palestra inaugural da Loja de Jovens “Radiant”, Madras, 3/set/1950; grifos nossos)