A Evolução do Eu Superior do Homem

O ponto seguinte a ser considerado é como esses veículos se comportam no processo das sucessivas reencarnações, pois isso nos permitirá compreender melhor o aspecto principal da Diversidade na lei da fraternidade humana, que é o fato da humanidade estar composta de seres de diferentes idades, ou diferentes níveis de evolução psico-espiritual. Isso porque esse processo das reencarnações explica o acúmulo diferenciado de experiências, o qual está na base dos diferentes níveis de maturidade ou desenvolvimento psico-espiritual dos seres humanos.

As energias divinas, numa primeira etapa, criam e envolvem-se em níveis de matéria cada vez mais densos, até alcançarem o plano físico. A partir daí, conforme já foi mencionado, essas energias sofrem uma inflexão, por assim dizer, e animam os reinos mineral, vegetal, animal, humano e super-humano, até retornarem, agora plenamente conscientes, ao seio da Divindade Una. Aqui uma analogia com a Parábola do Filho Pródigo é quase óbvia. Os seres humanos, portanto, têm imediatamente atrás de si o reino animal, de onde surgem como seres que adquiriram uma individualidade própria, ao se libertarem das limitações da consciência grupal, que é típica dos instintos animais.

Nesse ponto da evolução, no início da etapa humana, o Eu Superior do homem recém tornou-se uma entidade espiritual individual, adquirindo assim uma liberdade de pensamento e uma consciência de si mesmo muito maior, em comparação com aquela que possuía no reino animal. Esse Eu Superior, contudo, apresenta-se muito pouco desenvolvido quanto às suas imensas capacidades latentes. Ele vai gradualmente desenvolvendo estas potencialidades à medida que o ser humano vai passando por sucessivas reencarnações.

No início de cada encarnação o Eu Superior (relativamente imortal, ou, mais precisamente, eônico) cria um novo quaternário inferior para poder colher mais experiências nos planos físico, astral e mental inferior.

A vida física é, normalmente, a mais curta, embora a mais significativa, pois é a única na qual o ser humano encontra-se com todos os veículos e, assim, possui maior independência e potência para gerar novas causas e buscar novas experiências.

Depois de seus anos de existência no corpo físico o homem chega à passagem chamada morte, quando abandona o veículo físico denso e o duplo etérico, normalmente já desgastados e pouco úteis para amealhar mais experiências, e parte para uma vida no plano astral, por meio de seu veículo astral. Essa vida astral dura, normalmente, duas ou três vezes mais do que a vida física e então esse veículo astral é abandonado em uma segunda passagem (ou “morte”), a qual nada mais é do que uma outra passagem para uma vida, normalmente, ainda mais longa, no plano mental inferior. Ao final deste ciclo o Eu Superior recolhe os resultados, ou as lições, das experiências vividas por meio de seu quaternário inferior nos três planos mais densos.

Esse, em grossas linhas, é o processo pelo qual o Eu Superior vai desenvolvendo suas infinitas potencialidades, até alcançar um estágio de amadurecimento e perfeição no qual esse ciclo de reencarnações não é mais uma necessidade compulsória. Ao final desse longo (ou eônico) percurso de centenas de reencarnações o ser humano alcança, portanto, uma Libertação e a consciência ingressa na etapa super-humana de desenvolvimento, onde uma das características é o fato de ter conquistado uma consciente imortalidade, e outra é a unificação com a Vontade Divina. Um dos nomes dados para esta Libertação é “Adeptado” ou, no Cristianismo, “Ressurreição”. Os Adeptos ou Mahatmas que inspiraram a fundação da Soc. Teosófica seriam exemplos de Seres que já alcançaram esse nível evolutivo.

Todos os seres humanos encontram-se nesse processo de desenvolvimento de suas potencialidades divinas, pois, como já foi dito, todos são essencialmente divinos. No entanto, os bilhões de seres humanos encarnados, bem como aqueles seres humanos (em número ainda bem maior) sem corpo físico na vida astral ou mental do ciclo reencarnatório, não iniciaram sua jornada humana ao mesmo tempo.

Uns tantos iniciaram a jornada muito antes de outros. E assim, enquanto alguns já chegaram à meta e outros estão próximos do término dessa jornada, o grosso da humanidade distribui-se ao longo desse caminho, alguns estando mesmo próximos do seu início. Esse fato é da maior relevância pois explica a enorme diversidade de estágios de desenvolvimento psico-espiritual (que se reflete como diferenças de caráter e de capacidades) entre os seres humanos.

Em vista disso, não é difícil percebermos que esse aspecto da enorme Diversidade de níveis de desenvolvimento psico-espiritual é quase tão importante para que se possa compreender as reais características da lei da fraternidade universal da humanidade, quanto o aspecto da Unidade subjacente a todos os seres. (Arnaldo Sisson Filho. Teosofia e Fraternidade Universal, Capítulo VII)